terça-feira, 20 de maio de 2008

O cão da delegacia

Ontem, depois de uma experiência ruim, mas não terrível, fui para a delegacia fazer o boletim de ocorrência do roubo do meu carro. Fico impressionada como o ambiente das delegacias é pesado, realmente horrível. As pessoas que estão lá ou sofreram ou cometeram um crime e os funcionários não têm a mínima estrutura para trabalhar. Eles têm de passar o dia escutando uma incansável impressora matricial muito, mas muito barulhenta.

Porém, como tudo que aconteceu no dia de ontem, minha visita à delegacia também poderia ter sido muito pior. Isso porque, além de não demorar seis horas para fazer um B.O. (caso a mulher que estava na minha frente na fila), tive uma companhia especial ao meu lado. Lógico que a presença da família em peso foi o que me manteve de pé. Mas um pequeno vira-lata preto e marrom, que se encostou na minha perna e depois sentou na cadeira ao meu lado fez a diferença.

É a segunda vez que eu tenho essa sensação. Em agosto do ano passado, quando passei por uma situação muito parecida, lembro de olhar para as minhas cachorras e achar um conforto diferente. Eu tento entender porque me sinto assim. Acho que é porque quando alguém rouba algo de você, acima da frustração pela perda material há uma frustração profunda com as pessoas em geral. Normalmente, tentamos ignorar a existência de pessoas violentas, mesquinhas ou simplesmente desesperadas. Vivemos nossas vidas paralelamente à delas e quando acontece de você dar de frente com uma pessoas assim, o choque é inevitável.

Nessas situações, quando olhamos para os olhos dos cachorros vemos uma inocência que nos parecia perdida. Acho que o que eu queria mesmo era continuar como aquele cachorrinho no banco da delegacia: ignorando todas as maldades do mundo!